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No Silêncio da Simplicidade, Arde a Santidade de Carlos Acutis

11 de setembro de 2025

Na sombra dos séculos, Belém não foi um ponto no mapa, mas uma fenda de fogo — lugar onde o Infinito se inclinou sobre o pó da terra e lhe soprou eternidade. Os homens aguardavam um rei coroado de relâmpagos, cercado por tronos e espadas flamejantes; mas o Eterno se vestiu de palha e silêncio, ocultando-se no coração de uma Virgem pequena. Esqueceram a raiz do pastor-rei: Samuel, na casa de Jessé, contemplava guerreiros altos e imponentes, mas o Senhor lhe rasgou os olhos com a própria voz: “Não olhes o exterior, pois o homem vê a carne, mas Eu vejo o coração.”

Eis, então, o último, o esquecido, o jovem pastor das colinas — coroado pelo Mistério. Davi dançou diante da Arca em roupas simples, coração em chamas; zombado pelos olhos da esposa, mas exaltado pelo Senhor dos Exércitos.

A história arde em círculos: da linhagem do pequeno pastor nasceu o Pastor eterno, o Absoluto que se fez chama frágil no ventre de Maria. O universo suspendeu a respiração diante do compasso do pequeno coração depositado na manjedoura, entre animais. E o Inefável, como outrora na sarça ardente, no sussurro da brisa para Elias no Horebe, no orvalho do maná caído no deserto, escolheu a linguagem da pequenez. O Fogo Eterno se oculta num fragmento de pão — tão pequeno que não sacia a fome do corpo, mas tão vasto que alimenta a sede das estrelas.

Assim também Carlos Acutis, menino de luz em nossos dias de sombra, foi ferido por essa mesma chama, tocado pela mesma brisa do Horebe. Não buscou tronos nem coroas digitais, mas navegou nas águas invisíveis da graça. Seu computador se abriu como janela para a eternidade; sua juventude ressoou como harpa do Cordeiro; sua alegria ardeu como a sarça de Moisés, escondida aos olhos de muitos. Nas redes, dançou como Davi diante da Arca, vestindo a simplicidade dos que sabem que o universo cabe inteiro no pequeno pão consagrado — invisível aos olhos que apenas desejam curtidas, mas luminoso ao coração que toca no Mistério silencioso do cotidiano, onde Deus gosta de habitar.

Carlos descobriu o segredo dos céus: que a glória se esconde no pastor esquecido, na brasa que não consome o arbusto, no sopro suave que vence o trovão, no pão sem ornamento que desce do alto. A eternidade pulsa no instante, e a santidade não foge do mundo: inflama-o por dentro. Santa Teresinha sussurra ao menino Carlos: “no pó limpo pelas mãos da mamãe, no gesto pequeno, no labor escondido, no terço gasto do papai, o Céu se abre.” Josemaría lhe entrega outro segredo: “na rotina da casa, no chiado das panelas acesas pela fé e pelo amor, a eternidade se oculta.” João Paulo ergue então a voz, jubiloso por ver seu sonho cumprido: um santo de jeans. “Os comuns são chamados ao incomum da graça.”

São Carlos Acutis, filho da luz, sinal ardente para uma geração cativa dos ídolos de silício e do deserto árido das influências digitais, em ti resplandece a liberdade dos filhos de Deus — porque tua alma encontrou, no pequeno pão consagrado, o manancial eterno da Vida.

E eu, ao te contemplar, vejo em teus olhos o reflexo de cada jovem que passa por mim. Rezo com muito fervor em meio a lágrimas de alegria para que, por tua intercessão, aprendam a reconhecer em seus dias rotineiros a presença do Inefável Amor de Cristo e o olhar terno de Santa Maria, sempre — sempre e sempre — à espera de nossas mãos estendidas. Pois é no gesto mais simples que a vida, embora breve, pode arder mais que as estrelas, e guiar, em seus brilhos, os que caminham ao nosso lado.

 

PROFESSOR EDUARDO FARIA