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No Jardim do Teu Silêncio

14 de outubro de 2025

I
No jardim do teu silêncio procurei-te, ó Senhora —
Doce Fogo, cuja chama suaviza a dor.
O leve perfume do teu véu, terno como o vento,
consumiu-me os desejos e purificou o pensamento.

II
Tu, Virgem da Chama que jamais se extingue,
ardeis no coração de Deus, que a tudo inflama.
És sol contido, luz que anuncia o mistério;
centelha eterna, em ti a carne tornou-se harmonia.

III
Tão pura quanto o orvalho que rola sobre a rosa,
és menina luminosa, candura silenciosa.
Brincas no Éden, e o tempo, ao ver-te, se inclina,
curvando-se ante o fulgor da tua luz divina.

IV
Teus cabelos — rios da noite mais serena —
descem suaves sobre a minha alma pequena;
cada fio acende o que em mim restou de vão querer,
fazendo-se incenso que sobe ao Verbo, a renascer.

V
És clara como a flor do espinheiro branco,
guia celeste, Beatriz do meu caminho santo.
Tua luz dissipa o inferno e o desejo passageiro;
em ti repousa o bem, e o mal se perde no nevoeiro.

VI
As flores do mundo ardem no altar das vaidades breves;
Cada beleza é chama que se oferece ao instante.
Como velas de carne, acesas pelo sopro do desejo,
derretem-se no próprio ardor — e a cera, ao cair,
VII

Queima a pele com a doçura cruel da lembrança.
Assim é o convívio humano: lume que se apaga deixando o eco da dor,
e na alma, a cicatriz morna da saudade —
ferida de luz que ainda ama o que o tempo já levou.

VIII
Tu, Fogo invisível que o tempo não consome,
És a chama da Criação, fonte de todo nome.
Quando ouso tocar-te, a carne se faz luz,
e o desejo se transforma em oração que conduz.

IX
Teu colo suave, berço do Criador menino,
é refúgio sagrado onde o sopro divino
se fez infância; e a alma, inquieta e rendida,
encontra em seu regaço o repouso que dá vida.

X
Teu dorso ergue-se leve, como sílfide alada,
em direção a um céu de dor sublimada.
E entre teus cabelos, noite profunda e pura,
oculta-se o prêmio da minha procura.

XI
Revela-me, ó Mãe, tua cor bendita e serena,
pois és formosa, e em ti minha alma se acalenta.
Teu gesto é chama, teu corpo é oração,
que redime o desejo e eleva a paixão.

XII

E em devoção a Teu Filho, em teus braços sagrados,

minhas mãos tocaram teus pés consagrados;

as chamas do desejo — cordeiro no altar de Abraão —

subiram em névoa de oferenda e devoção.

XIII

Teu rosto, aurora do mundo celeste,

ergueu em meu peito, onde a alma se reveste;

meu coração, antes cativo do prazer terreno,

aprendeu a servir-te em deleite sereno.

XIV
Ó Mãe, tua beleza ultrapassa a matéria;
por ti, minha vontade se torna etérea.
Teu olhar — farol que guia o coração —
conduz-me ao lugar onde Deus é paixão.

XV
Do fogo do desejo à visão purificada,
aprendi que amar-te é santa loucura consagrada:
perder-me em ti, qual bebê aquecido,
entre teus cabelos santos, mui protegido,
e ali encontrar o Menino Deus, segredo da vida.

XVI
Sob teus fios, velados em mirra e glória,
revela-se o Verbo, origem da história.
E o perfume que deles emana e me envolve
é o mesmo que as abelhas do paraíso recolhem.

XVII
Servir-te é possuir-te — eis meu destino;
nada querer por mim, senão pelo teu Menino.
Amar-te é morrer na luz que me redime,
e em ti conter o amor que ao Céu se exprime.

 

PROFESSOR EDUARDO FARIA