História do pequeno Frodo e seu condado: “A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns.” — G. K. Chesterton
No ventre da simplicidade — onde o lume de uma ordinária lareira acende mais do que calor, e a terra, trabalhada com mãos honestas, canta segredos esquecidos — ali habita a força invisível que destrona os impérios da soberba. Não nos palácios dourados dos reis, nem nas torres poderosas de vidro dos mercadores do mundo com suas Bigtechs, mas no campo sereno e no riso das crianças, no pão repartido entre os que se amam, ali floresce o verdadeiro poder que redime. Nesse local, Frodo, pequeno entre os pequenos, caminha não com espada, mas com silêncio e fidelidade; e o Condado, esse Éden reencontrado entre cercas vivas e hortas humildes, ergue-se como profecia: o Reino de Deus não desce com trombetas luxuosas, mas brota onde há fidelidade ao que é pequeno. A vida comum, desprezada pelos tronos e esquecida pelas máquinas e pelos intelectuais, torna-se o altar secreto onde Deus inscreve Sua glória. Na marcha de Frodo e Sam, exaustos e invisíveis aos olhos do mundo, ressoa o eco da antiga rebelião dos justos — aquela que não ergue bandeiras nem craveja muralhas, mas planta jardins e hortas. É no gesto do amigo que carrega o outro quando este já não pode mais andar com o peso do anel, que a esperança, outrora soterrada sob as cinzas do orgulho, acende sua chama eterna. Assim, a redenção não é um acaso, mas a escrita da graça nas margens da história, onde só os puros de coração sabem ler; pois é na casa modesta, entre o tear da mamãe e o canto do papai, na paciência dos dias repetidos e fiéis, que o céu toca a terra. Essa comunhão — sagrada e cândida — rasga o véu do mundo moderno, corrompido por sua pressa e sua fome de poder, visualizações e curtidas; e nela nasce uma revolução sem exércitos: a da ternura que resiste, da família que ora, do lar que não se rende. Não há heroísmo maior do que o amor que permanece, eis a verdadeira civilização do amor: não erguida com as pedras da ambição, mas moldada com lágrimas, com o suor do trabalho honesto, com rosários murmurados na madrugada. Um mundo novo que só os humildes podem sonhar — e que, por isso, será eterno, pois Deus, o Grande Poeta, o Eru Ilúvatar de Tolkien, escolheu escrever a história da salvação não em letras de ouro e diamantes, mas nas coisas pequenas, eternas e profundas.
PROFESSOR EDUARDO FARIA