Ó, Senhora do Fogo Eterno, guardiã do Cordeiro,
Chama oculta que arde e purifica os caídos,
Do seio materno verteis o vinho da vida
E dessa chama ferida arde a espada viva,
Que liberta os presos das trevas mortais, —
Vinde, e ensinai-me a andar pelas sendas da noite,
Onde teus passos traçaram o caminho oculto.
Afasta de mim os falsos espelhos do mundo,
Para que eu veja só a Face que tudo cria.
Como João, águia no céu das trevas noturnas,
Deitai o meu espírito em teu peito eterno,
Onde pulsa o segredo oculto da Criação,
Onde o Verbo murmura em silêncio estrelado,
Em meio às estrelas que dançam no abismo sem fim
Fazei-me repousar em ti, além do tempo.
Não nas engrenagens vãs desta terra vão,
Mas no santuário oculto da alma pura,
Onde o Sol nasce sem aurora nem declínio,
E a paz sem nome habita em silêncio santo.
Guardai-me da inveja das rotas alheias,
Não permitais que eu deseje outro destino,
Dai-me o pão sagrado do vosso ventre em flor,
Amor que rompe céus com seu fulgor de dor;
O vinho da esperança em teu âmago vertido,
Para que eu ande entre espinhos como em flores,
Falai, Senhora do amor e do Além distante,
Teu chamado é trovão suave e libertador,
Que rompe véus e liberta os presos das trevas
Em cada sílaba de vosso nome revelado,
Surge o Alfa e Ômega, fogo sagrado.
E mesmo quando a noite cobre o mundo em sombra,
Como João, que eu esteja onde O Sangue inflama
a Estrela ardente, e a terra em sangue abençoe,
lá, o Filho do Trovão contempla o segredo
do Coração materno, em véu de silêncio,
cheia do mistério da dor que não se finda,
ela guarda o segredo da eterna chaga:
um fogo alado que destrona o abismo.
E eu, como o Apóstolo do livro selado em luz,
Filho a ti consagrado, ó Mãe do Fulgor divino,
Quando teu Filho vier — em chamas coroado —
ou em sussurros suaves que rompem a noite —
que eu arda, não em lume vil do mundo cego,
mas em brasa pura, chama que não morre,
Ardor vivo do amor, qual fogo celestial,
incendiado no peito do Apóstolo mais amado.
Ó Senhora, vós sois, pois, a Mãe do Grande Mistério,
Condição selada em sangue e fogo celeste,
Na cruz do Verbo que rasgou o véu do abismo:
Mãe de João, pacto na ardência da luz em agonia,
Na cruz se fez clara a vossa maternidade.
Desde esse instante, toda mãe vos espelha,
Imagem selada até o fim dos tempos,
Em vosso regaço, repousam os nascituros,
Alento divino que embala os pequeninos.
Vós sois, pois, o reflexo de toda maternidade,
Desde o pacto eterno, firmado em sangue e luz.
Acalentais filhos que ainda não nasceram,
No ventre do tempo, materna eternidade.
Amamentais almas por cada peito humano,
Espelho do vosso amor que nunca se extingue.
Vosso fulgor inflama os céus do meu existir,
Em vossa luz respiro e torno-me criança.
No vosso seio, chama oculta e silenciosa,
Repouso em glória, como o amante na noite,
E em vosso fogo, em êxtase, deixo-me arder.
PRFESSOR EDUARDO FARIA