Você está aqui:

A pedagogia de Jesus

21 de fevereiro de 2025

A passagem da Samaritana, no capítulo 4 do Evangelho de João, é essencial para entendermos como Jesus ensinava: Ele chama a viver uma vida interior, superior ao que nos acostumamos. Jesus, o próprio Deus, rebaixa-se à condição humana para elevar a humanidade para mais perto de Si.

A samaritana pertencia a um grupo que não se dava bem com os judeus e passou por uma difícil história. Estava no sexto casamento, insistia na procura de um amor que realmente viesse a lhe preencher. Dirigindo-se ao poço de Jacó para buscar água, encontra-se com Jesus, um judeu, que lhe pede: “Dá-me de beber”. Ela está diante do Deus sedento, não de água, pois Ele é o criador dessa substância, mas sedento do Amor. O Deus supremo coloca-se em uma posição de necessidade e nos pede para ser saciado.

Perceba que o Senhor poderia ter ido direto ao ponto: “Você está vivendo em situação de pecado. Estou extremamente decepcionado contigo. Desperdiçou toda sua vida atrás de amores passageiros. Largou seu marido para trás para viver com outros.” Jesus poderia ter sido firme como era com os fariseus. Mas o sábio mestre sabia que não deveria ser assim. Ele chega pedindo um favor, em uma posição inferior, dependente, confiando àquela mulher uma tarefa, lembrando-lhe que ela tem forças para realizar essa tarefa e que confia plenamente nela para cumpri-la.

A samaritana estranha aquele comportamento. “Um judeu me pedir um favor?”, ela pode ter pensado. Jesus responde de uma forma esperançosa: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é o que te pede: ‘dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva.”. A samaritana retruca: “O poço é fundo e nem tem com o que pegar a água. Como me darás a água viva? “. Jesus responde: “Se beberes desta água do poço, terás sede de novo. Mas quem beber a água que eu darei, jamais terá sede, mas se tornará fonte de água que jorra para a vida eterna”. Jesus se aproxima da realidade da samaritana, para chamá-la a algo ainda maior. Ela, que buscava saciar-se nas coisas passageiras e sempre ficava com sede, é chamada por Cristo a nunca mais ter sede, pois estava diante da fonte de água viva. Jesus se aproxima dela e convida-a à sua realidade com esperança, sem julgamentos, de modo que ela clama: “Senhor, dai-me esta água para que eu não tenha mais sede”.

***O próximo passo de Jesus é ajudá-la a vencer o pecado. Não aponta o dedo, mas é sutil: “Vai chamar teu marido”. Ela responde: “Não tenho marido”. Jesus poderia dizer: “Está mentindo”. Mas o Senhor interpreta sua resposta em um bom sentido: “Dissestes bem. Tivestes cinco maridos e o que está agora com você não é o teu marido. Nisto falaste a verdade”. Jesus não chama apenas para sair do pecado, mas é chamada a uma missão: ser testemunha Daquele que é a fonte da água viva e a razão da sua esperança, o único capaz de saciá-la. E assim ela o faz: deixa o cântaro no poço e volta para seu povo com profunda alegria.

Eis a forma como Jesus ensina aos seus: pelo amor. Não rebaixa seus discípulos e nem aponta o dedo para seus erros. Vai até eles, entra em seu mundo e os chama a viver um apostolado, convocando-os a colaborar com o Mestre; este mesmo discípulo, por sua vez, sente-se impelido a convocar outros a seguir também o Senhor. Tal forma foi muito bem explicada por São João Bosco, no seu método preventivo. Longe de diminuir seu aluno, o mestre é chamado a exaltar a dignidade de seu discípulo, chamado a viver uma vida superior, de modo que ele verá seu pecado como empecilho de alcançar voos ainda maiores. Jamais nos esqueçamos de nossa vocação e que somos chamados a lembrar aos menores desta realidade: somos chamados a viver o amor como apostolado.

Felipe Mendes

Missionário da Comunidade Católica Missão Maria de Nazaré

Professor do Colégio Magnificat.

 

REFERÊNCIA

CASOTTI, Mario. O método educativo de Dom Bosco. Tradução: Alex Ross. 2 ed. São Paulo: Editora Verbo Encarnado, 2022.