Você está aqui:

A formação do imaginário e o progresso na vida espiritual

15 de março de 2025

No livro de Ester lemos uma passagem que é interessante e muito tem a nos dizer sobre algo que muitos desconhecem, e que no entanto é muito importante: a formação do imaginário e nosso progresso espiritual.

“Senhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados,

que tu libertas, Senhor, até ao fim,

todos os que te são caros.” (Ester 4, 17)

Se não fizermos somente uma leitura superficial e nos determos na passagem, enxergaremos um sentido mais amplo e profundo da oração de Ester, clamando a salvação do seu povo.

Ester usa na sua oração não somente do que vem à mente ou de palavras aleatórias, mas recorda-se “dos livros de meus antepassados”. Ou seja, Ester tem o seu imaginário bem pautado e formado no que ouviu e leu dos seus antepassados e isso a ajuda a rezar, a confiar. Se Deus já havia feito em favor de seu povo outrora, porquê não faria agora?

Se na imaginação de Estar estava tudo o que o Senhor já havia feito, seus prodígios e milagres, se seu imaginário estava bem formado, isso a ajudava indubitavelmente a rezar e a progredir na via da oração.

Essa noção falta às gerações recentes, ou mais especificamente dizendo, aos católicos de hoje.

Muito falamos sobre as duas faculdades principais da alma humana, isto é, a inteligência e vontade. No entanto, antes que dois pilares, a alma humana possui um tripé: a inteligência, a vontade e a imaginação. A imaginação é o remo que impulsiona, atrai e fortalece a inteligência e vontade.

Como negar que a inteligência e vontade de Ester não foram abrasadas diante daquilo que sua imaginação remava: Deus já os havia salvado.

Portanto, se queremos e precisamos rezar mais e melhor, progredir, atingir o alvo de uma vida interior séria e fecunda, precisamos investir, trabalhar, formar nossa imaginação. E o que mais forma a imaginação é a arte, de modo especial a literatura.

Muitos hoje em dia querem rezar depois de um dia inteiro passado em frente às telas do Instagram. A imaginação poluída pelo o que é irrelevante pode vir a atrapalhar a vida espiritual.

Mas, não! É hora de voltar à biografia de santo que paramos de ler, aos bons filmes, aos bons livros, aos bons poemas.

É hora de voltar aos clássicos. À boa literatura.

Não há dúvidas que depois de ler “Crime e Castigo” de Dostoiévski, você irá rezar melhor diante do mistério da iniquidade humana. Certamente depois de um bom filme, que te traga a refletir sobre as coisas boas e que realmente importam, você rezará melhor sobre o bem, a virtude.

Por fim, desde sempre o ser humano contou histórias e construiu as civilizações e tudo quanto vemos hoje ao redor e apoiados nela. Desde sempre a inteligência e a vontade humana foram remadas por um imaginário semeados de boas histórias, referências e exemplos. Não deixemos morrer o que nossos antepassados contruíram. Melhor, façamos progresso, progresso no que Deus espera de cada um de nós: uma vida interior, uma vida de santidade.

Emanuel de Jesus | Professor do Colégio Magnificat.