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O santo das ciências naturais

23 de fevereiro de 2024

‘‘Fé e razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhece-Lo, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio.’’ (São João Paulo II)

Muito oportuna é esta frase de São João Paulo II, presente na encíclica Fides Et Ratio, escrita em 1998, pouco tempo antes da virada do milênio. Época esta em que os avanços científicos são notórios: os conhecimentos sobre o espaço, a Terra, os avanços na medicina, no conforto da vida humana, no conhecimento sobre o corpo e suas limitações. Entretanto, é o mesmo período em que o Ser Humano se vê perdido no mundo, sem sentido de vida, apelando para grandes atrocidades para solucionar seus problemas, reduzindo o significado da vida a um nada, enquanto a vida animal recebe cuidados excessivos. Afinal, para que serve as ciências?

Acredito que você já deve ter ouvido falar que a Igreja foi a maior inimiga das ciências. Conseguiram nos fazer acreditar que a humanidade desenvolveu seus conhecimentos na Idade Antiga. Porém, veio os mil anos da Idade Média, no qual reinou a escuridão e a ignorância. E, do nada, no primeiro ano da Idade Moderna, a humanidade volta a se interessar pelo conhecimento, pois se libertou da igreja opressora. É sério?

Acreditar que a humanidade passou por mil anos na ignorância é praticamente impossível quando conhecemos as grandes mentes do tempo medieval. Não se enganem, não quero dizer que a Idade Média foi mil maravilhas. Cada época possui seus pontos positivos e negativos, mas não é possível ignorar nomes como Guido D’Arezzo (o pai da música), Roger Bacon (precursor do método científico), Santo Tomás de Aquino (um dos maiores nomes da Filosofia) e principalmente Santo Alberto Magno, mestre medieval e padroeiro dos cientistas.

SANTO ALBERTO MAGNO

Santo Alberto Magno nasceu na Alemanha no século XII e recebeu seu título de ‘‘Magno’’ pela profundidade de seus conhecimentos e sua vida de santidade. Além do estudo das arte liberais e da fé, Santo Alberto destacava-se nas ciências naturais: física, química, astronomia, botânica, mineralogia e zoologia. Dentre seus feitos, destaca-se a descoberta do elemento químico Arsênio, um metal tóxico presente em mais de 200 tipos de minerais.

Embora em sua época o método científico ainda não estava desenvolvido, sua prática já dava sinais do que viria no futuro, uma vez que seu método era baseado na observação e descrição dos fenômenos estudados.

A vida de Santo Alberto Magno nos reforça o quanto não há oposição entre a Fé e a Ciência. Pelo contrário. Para uma mente que busca a Verdade, é perfeitamente possível progredir nos conhecimentos da natureza, pois só uma mente inundada pela admiração e a beleza com a qual as coisas são feitas poderá fazer a ciência progredir de modo correto, pelo bem do Ser Humano.

‘‘Com efeito, quantos cientistas, no sulco de Santo Alberto Magno, fizeram progredir as suas investigações, inspirados pelo enlevo e pela gratidão diante do mundo que, aos seus olhos de estudiosos e crentes, parecia e parece a obra boa de um Criador sábio e amoroso! O estudo científico transforma-se então num hino de louvor.’’ (Bento XVI)

Já parou para pensar que se a Terra estivesse alguns metros mais próximo ou mais distante do Sol é provável que a vida em nosso planeta não existisse? Que tudo o que está ao nosso redor está em um constante movimento, mas nada se move sozinho? Quem deu o primeiro movimento? Quem é o motor móvel, que iniciou todos os movimentos de forma ordenada, a ponto de que várias mentes brilhantes se admirassem com tamanha beleza?

E como explicar o corpo humano e sua complexa funcionalidade? Dizer que foi obra do acaso é como dizer que um relógio, com todas as suas engrenagens limpas e bem encaixadas, foi feito do nada.

 

Além de ter criado as universidades, a Igreja sempre valorizou o conhecimento científico em benefício da humanidade. Valeu-se do método científico para diferenciar o conhecimento empírico (popular) das teorias científicas e das Leis Científicas que regem o universo. Todos os fenômenos sobrenaturais que acontecem no seio da Igreja (milagres, curas, revelações particulares, corpos incorruptos, aparição de estigmas) passam pela ciência para atestar todas as possibilidades dentro do universo material.

Santo Alberto Magno era grande estudioso de Aristóteles, filósofo que inspirou Santo Tomás de Aquino. Seus estudos contribuíram para a distinção entre filosofia e teologia e o uso destes dois saberes para a descoberta da finalidade do Ser Humano e sua vocação para a alegria eterna, que parte da adesão à verdade.

Que Santo Alberto Magno seja uma grande fonte de inspiração para os cientistas dos tempos atuais, na busca de respostas pelos maiores anseios do ser humano e no desenvolvimento dos seus conhecimentos para o bem da humanidade ao invés da sua total degradação.

 

FELIPE MENDES | Professor de ciências e química do Colégio Magnificat

 

REFERÊNCIAS

-Bento XVI, Papa. Catequeses sobre santos: os padres da Igreja, os mestres medievais e santas mulheres. 1 ed. Campinas: Ecclesiae, 2016.

-João Paulo II, Papa. Fides et Ratio. 13 ed. São Paulo: Paulinas, 2010.

-JUNIOR, T.E.W. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental. Tradução de Élcio Carillo. Revisão de Émérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 2008.