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A Educação Católica e sua finalidade

29 de fevereiro de 2024

A educação é, sem dúvida, uma das principais atividades humanas. Ela forma o ser humano em tudo e dá sentido à sua existência. É por meio do exercício do ensino e da aprendizagem que o homem e a mulher são capazes de desenvolver suas tarefas, descobrir coisas novas, conhecerem a si mesmo e ao mundo ao seu redor. Mas a educação pode, e deve, também formar o ser humano para a experiência das coisas espirituais e metafísicas, como por exemplo o conhecimento de Deus. Para a Educação Católica a finalidade da educação passa justamente por essa realidade, pois sendo Deus autor e princípio de tudo, Ele é também o fim de tudo.

A tarefa de ensinar cabe em primeiro lugar a família e a Igreja, porém a escola também ocupa um papel muito importante na educação, e de modo especial na Educação Católica. Assim diz a Sagrada Congregação para a Educação Católica (1977): “A Igreja está plenamente convencida de que a Escola Católica, ao oferecer o seu projeto educativo aos homens do nosso tempo, atua com uma função eclesial, insubstituível e urgente. Na Escola Católica, com efeito, a Igreja participa no diálogo cultural com uma sua contribuição original e propulsora do verdadeiro progresso na formação integral do homem. A ausência da Escola Católica constituiria uma perda imensa para a civilização, para o homem e para os seus destinos naturais e sobrenaturais.”

A Escola Católica visa, portanto, formar o homem inteiro, ou seja, todo o seu ser. Para compreender, porém, como deve ser em nós esta formação integral é preciso olhar para a pessoa de Jesus, pois é imitando sua vida que seremos Cristão autênticos. No Evangelho de Lucas encontramos esta definição de integralidade: “E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens.” (Lc 2, 52) ¹. Deste modo, se queremos imitar a Jesus é preciso seguirmos os seus passos. Para entender melhor esta formação integral, a partir do modelo de Cristo, é preciso aprofundar nestes três aspectos, que de algum modo, abrangem todo o nosso ser:

– Estatura: Esta é a nossa dimensão moral, ou seja, diz respeito a nossa afetividade e sexualidade. É campo da formação humana naquilo que se refere ao desenvolvimento das virtudes, especialmente as chamadas cardeais (temperança, fortaleza, justiça, prudência) e seus desdobramentos. O objetivo aqui é fortalecermos a nossa vontade, para não nos paralisarmos com os vícios, mas buscarmos a Maturidade, que como afirma Dom Rafael Llano Cifuentes, é a “plenitude das virtudes” ².

– Sabedoria: É aqui que desenvolvemos nosso intelecto, que juntamente com a vontade, formam as faculdades superiores da alma, próprias do ser humano. São Tomás de Aquino diz que nascemos em uma “dupla obscuridade: o pecado e a ignorância” ³, este último é superado pela busca da sabedoria, enquanto o primeiro é por meio da vida virtuosa (falado anteriormente). A Sabedoria cresce pela busca da Verdade, portanto as ideologias e o relativismo caminham na contramão do conhecimento autêntico, que como diz Jesus, nos ‘liberta’ (cf. Jo 8, 32).

– Graça: O ser humano não é formado apenas por um organismo natural (corpo e mente), mas possui também um espírito, chamado pelos autores místicos (como por exemplo Garrigou-Lagrange) de organismo sobrenatural, ou espiritual. Só em estado de graça este organismo pode ser desenvolvido, o que torna necessário superar o pecado e a ignorância, porém isso não é suficiente para progredirmos até a santidade, pois a nossa santificação é obra da graça de Deus, que cresce por meio da intimidade, da mortificação, da vivência do amor e da força do Espírito Santo. Só assim conseguiremos ser Santos.

Estes três aspectos nos fazem não apenas imitar a Cristo, que como afirma no Evangelho, assim crescia e se desenvolvia em Nazaré, mas também a alcançarmos as três qualidades superiores, chamadas de transcendentais, por serem plenamente encontradas em Deus, são estas o Bom, O Verdadeiro e o Belo. A Igreja nos ensina que “Deus criou o mundo para manifestar e para comunicar sua glória. Que suas criaturas participem de sua verdade, de sua bondade e de sua beleza, é a glória para a qual Deus as criou” (CIC § 319) 4. Deste modo podemos dizer que a Educação Católica precisa ter como finalidade o conhecimento e a busca destas três realidades, para vivermos na plenitude da vontade de Deus.

Associar estas crês características do Divino nestas três dimensões citadas, não é tarefa impossível, pois Deus nos fez para sermos semelhantes a Ele. Neste sentido, crescer em Estatura significa buscar ser Bom como Deus é bom; crescer em Sabedoria implica buscar a Verdade no qual Deus se encontra; e por fim crescer em Graça é desfrutar do Belo de Deus, não apenas no que ele faz, mas principalmente em quem Ele é.

Todos querem ser felizes, mas poucos têm clareza deste caminho para a felicidade, caminho que perpassa o sentido de nossa existência: “conhecer e amar a Deus” (cf. CIC § 1). Só seremos felizes se amarmos a Deus e só o conseguiremos amar de verdade se o conhecermos. É por este motivo que Jesus dá uma ordem aos seus discípulos no momento de sua subida para o céu: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações (…) Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi.” (cf. Mt 28, 19-20). A verdadeira educação deve, portanto, ter em vista a finalidade última do ser humano e sua realização enquanto pessoa, que passa pelo conhecimento de Deus. Experimentar a Deus por meio dos ensinamentos de Jesus e de sua Igreja é a maneira mais eficaz de encontrarmos o sentido de nossa vida e, portanto, a felicidade, que embora comece aqui nesta vida, só será plena na Vida Eterna.

Valdo Júnior

Cofundador da Comunidade Católica Missão Maria de Nazaré

Referências Bibliográficas:

¹ BIBLIA AVE MARIA. Bíblia Sagrada. Ed. 172. Claretiana. São Paulo, SP: Editora Ave Maria, 2006

² CIFUENTES, Dom Rafael Llano. A Maturidade. Editora Quadrante

³ AQUINO, Santo Tomás. Oração antes dos estudos. Encontrado em: http://www.catolicoorante.com.br/oracao.php?id=240

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição Típica Vaticana. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2000